O
catador de material reciclável não é um novo ator no cenário da questão dos
resíduos sólidos ou do lixo no cenário brasileiro.
No
Brasil, é a figura do “velho garrafeiro”, do começo do século XX, que põe em
evidência tal atividade, que se expande com o desenvolvimento da sociedade
industrial.
Trata-se,
assim, de uma atividade antiga, mas que vem se expandindo ao longo dos anos,
constituindo-se como possível mercado de trabalho, em relação direta com a
grande quantidade e qualidade de resíduos recicláveis, homens e mulheres
exercem uma atividade que constitui o primeiro elo do circuito econômico que
gira em torno da reciclagem.
Contudo,
somente em 2002 a ocupação catador de material reciclável foi incluída na
Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, cabendo a esse profissional:
catar, selecionar e vender materiais recicláveis, com papel, papelão e vidro,
bem como materiais ferrosos e não-ferrosos e outros materiais reaproveitáveis.
Tais
atividades podem ser desenvolvidas de formas e em locais diferenciados. Isto
significa dizer que existem os que estão nas ruas, galpões, cooperativas e associações.
Os
processos de trabalho e catadores diferenciam-se desde o local de execução do
trabalho, até suas dinâmicas envolvendo a divisão de tarefas, os instrumentos
utilizados e, consequentemente, as relações estabelecidas entre os próprios
catadores.
Os
catadores que trabalham em locais destinados a reciclagem acabam sendo
divididos em diferenciadas funções, tendo em vista que não é realizada apenas a
separação do material, quer dizer, dependendo do tipo de produto, esse, posteriormente,
é prensado, aglomerado em fardos (enfardado) e empilhado no galpão do próprio
local.
Sua
atividade é exercida em ritmo acelerado e determinado pela chegada de caminhões
de lixo. O objetivo é separar o maior número de material reciclável
diariamente. Já separados os materiais recicláveis são vendidos para
intermediários que, por sua vez, comercializam os mesmos junto à grandes
indústrias.
Constata-se, portanto, que ainda que esses catadores exerçam uma atividade em princípio formalmente não integrada ao sistema de acumulação capitalista, essa mesma atividade é realizada à base da pura força de trabalho.
Assim,
é um grande engano considerar que esses catadores são supérfluos do ponto de
vista da acumulação global. Os catadores de materiais recicláveis são parte
fundamental da cadeia produtiva dos materiais recicláveis, ainda que de forma
marginalizada pelos atores econômicos e governamentais.Constata-se, portanto, que ainda que esses catadores exerçam uma atividade em princípio formalmente não integrada ao sistema de acumulação capitalista, essa mesma atividade é realizada à base da pura força de trabalho.
Conclui-se que os
catadores não se enquadram na categoria de excluídos, que pressupõe a
inutilidade, os catadores de materiais recicláveis são trabalhadores úteis, dos
quais é possível a extração de mais-valia. Eles vivem, na verdade, um processo
de exclusão/inserção social, onde suas vidas são permeadas por zonas de fragilidades
e precariedades.
O
texto ora apresentado é parte da Dissertação de Mestrado de Raquel de Sousa
Gonçalves, com o título de “Catadores de Materiais Recicláveis: trajetórias de
vida, trabalho e saúde”, apresentada em 2004 a Escola Nacional de Saúde Pública
Sérgio Arouca/Fiocruz.
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