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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

CATADORES DE SONHOS


O som mágico de cavalos cansados, passos rasgados, carroças puxadas...
A visão nítida de rostos queimados, braços esticados, carretas levadas, fez com que me aproximasse de vocês.
Catadores de papel, colecionadores de restos, bagagem de dejetos.
Quanto caos e também quanta luz!
O encanto não sumiu com o meu pranto...
O encontro não abafou meu grito de espanto.
Meu pranto não faz desaparecer o encanto que experimento ao encontrá-los.
Pelas ruas andam empurrando seus carros, seus medos, exorcizando a miséria.
Sinto que em cada rosto encontrado, há um apelo que parte de mim há uma necessidade maior de apontar, mostrar as impossibilidades de opções...
Eles não percebem...
Eles nada podem fazer...
E nós?
Muitos são, pouco tem e carregam fardos de nossas vidas.
O excesso de nosso cotidiano. A sobra de toda uma sociedade.
Muito vi, muito aprendi e sei que muito vou deixar.
Registro um mundo de impossibilidades, janelas fechadas e portas cerradas! A quem compete descerrar? Passiva não posso permanecer!
Meu grito é expresso em cores e rostos, meu apelo são ícones do cotidiano, minha mensagem é por mais vida...
Em tantas caras, muitos gestos surgem vocês, catadores excluídos!
Meu pincel conduz linhas, formas e sentimentos. Minha obra traduz a esperança que sinto de incluí-los no meu mundo onde é permitido sonhar...
No universo onde se permite conhecer e optar.
Aprendi em trôpegos passos que o melhor olhar é o do sentir...
Como não ver imagens tão fortes, vividos momentos, pacto travado, registro fixado...
Perambulam ávidos em toscos carros, ilusões...
Catam.
Papel.
Plástico.Papelão.
Frascos.
Fardos.
Fatos.
Traduzem em sua caminhada anseios, devaneios e sonhos.

Ilse Ana Piva Paim

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Ilse Ana Piva Paim
Possui graduação em Artes Plásticas pela Universidade de Passo Fundo (1979) e graduação em Educação Artística pela Universidade de Passo Fundo (1977), mestre em Educação, artísta plástica, arte educadora e pesquisadora disciplinada e incansável, sobretudo em relação aos temas sociais, ou temas que contém elementos estrutrantes de nossa identidade social, provoca inquietação ao retratar desde catadores de lixo, tornados invisíveis aos nossos olhos pela via cruel da exclusão social, até os remanescentes de povos primitivos (indígenas), que tiveram um papel fundamental na formação de nossa identidade e história, população dotada de imensa riqueza cultural e, hoje, tristemente marginalizada e desprezada por parte significativa da sociedade, que tende a desprezar a força da mestiçagem como elemento constituidor vital do povo brasileiro.

Conheça mais sobre o Projeto da Artista "Catadores de Sonhos".

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